As notícias sobre tênis, o esporte acomodado no coração dos brasileiros graças ao carisma do catarinense Gustavo Kuerten, o Guga, número 24
no ranking mundial e 27º na Corrida
dos Campeões, serão fartas nas próximas semanas. Jogadores, especialistas, velhas e novas legiões de fãs estarão em estado de alerta. Guga, justamente ele, tricampeão de Roland Garros, primeiro brasileiro a atingir o topo do mundo no masculino, maior ídolo do País nas quadras desde o fenômeno tricampeão de Wimbledon Maria Esther Bueno, guardou as raquetes, muito bem guardadas, ao lado das pranchas de surfe. Terá pela frente, sabe ele, um longo, delicado e incerto período de recuperação.

 

No domingo 19, após vencer o argentino Juan Ignacio Chela, 22º do mundo, por 2 sets a 0, na final de um torneio em São Paulo, anunciou que vai tratar as fortíssimas dores no quadril, o velho e doloroso adversário, impiedoso nas últimas batalhas que travou para voltar a exibir um tênis de alto nível, mesmo naquelas em que os resultados pareciam esconder o poder destruidor das pontadas. Guga vai esperar o tempo necessário para ter de volta, pelo menos, algo próximo da performance que lhe deu mais de US$ 20 milhões em prêmios e patrocínios, o carinho das massas e a coroa imaginária de um dos príncipes dos trópicos. Na semana passada, Guga iniciou nos Estados Unidos, com os médicos Thomaz Byrd, o mesmo que o operou em fevereiro de 2002, e Mark Philipus uma série de novos exames, terapias e tratamentos. As chances de sucesso são reais, mas Guga, seja qual for a opção escolhida com os médicos, deixará o circuito por um período de seis a 12 meses, talvez até um pouco mais, num túnel inevitável rumo à recuperação.

O fenômeno Guga, que hoje busca novas forças, é o fruto principal de uma trajetória feita por desbravadores românticos e corajosos. Essa história acaba de chegar às prateleiras no livro O tênis no Brasil – de Maria Esther Bueno a Gustavo Kuerten (Editora Códex, 400 págs., R$ 50), de Roberto Marcher e Gianni Carta, um dos mais felizes levantamentos sobre o esporte já feitos no País. A grande força vem da sinceridade e da consistência dos relatos nas entrevistas. O livro retrata, entre outros, estrelas como Maria Esther Bueno, os irmãos Manoel Maneco e Carlos Alberto Lelé Fernandes, Thomas Koch, Luís Felipe Tavares, Patrícia Medrado e Fernando Meligeni. E, evidentemente, Guga.

Avessa a jornalistas, Maria Esther, 589 títulos na carreira, 20 deles em Grand Slam de simples e duplas, “que dá a impressão de estar em permanente litígio com as glórias do passado”, como registra no livro o jornalista e escritor Nirlando Beirão, rendeu-se a uma conversa recheada de passagens comoventes. Uma delas é o comentário sobre o primeiro dos três títulos em Wimbledon. “Depois de um tempo, percebi a grandiosidade do que tinha acontecido. Aí comecei a chorar. Chorei, chorei até não querer mais (…).” Meligeni faz homenagem ao “guru” Koch: “Faço reverência, fico de joelhos diante dele. Ele quer me bater. Mas falo: pode me bater, mas para mim o tênis começou graças a você.” E Guga admite ter se espelhado, no ínício da carreira, em Jaime Oncins, hoje seu amigo. O trabalho traz ainda 110 fotos, rankings e a Tabela Marcher, uma análise dos jogadores a partir das características físicas, psicológicas, seus golpes e suas jogadas prediletas. Enquanto Guga se recupera e os olhos dos fãs não se voltam para as quadras, melhor conhecer, com emoção e riqueza de detalhes, os heróis que, com suas performances, levaram a tudo isso.