29/09/2004 - 10:00
Uma passada de mão em lugar proibido. Olhares provocantes em direção aos órgãos mais íntimos do corpo. Propostas indecorosas em troca de favoritismo. Esse assédio sexual se torna cada vez mais comum nos Estados Unidos. Mas, ao contrário do que se poderia esperar, as cantadas indesejadas agora acontecem de macho para macho. Machos poderosos, é claro, que assediam descaradamente seus constrangidos subalternos. Eles usam o poder para alcançar seus objetos de desejo. Estes são casos de jovens que foram abordados no banheiro, receberam gordas ofertas financeiras ou até foram fartamente gozados por usarem brincos ou outros adereços supostamente femininos. As frágeis presas masculinas constam da pesquisa do sociólogo Christopher Uggen, da Universidade de Minnesota, que em co-autoria com a professora Amy Blackstone, da Universidade de Maine, acaba de publicar o estudo Sexual harassment as a gendered expression of power (Assédio sexual como uma manifestação de gênero de poder) na revista American Sociological Review. Em entrevista a ISTOÉ, o professor Uggen não escondeu a surpresa ao deparar com o fenômeno masculino: “Fiquei pasmo”, confessou. “Entre os 700 entrevistados, um terço dos adolescentes trabalhadores e metade dos jovens empregados já sofreram assédio”, completou ele.
Os assediados são geralmente homens entre 17 e 25; muitos estão à procura de trabalho, outros são financeiramente instáveis. Também são alvos aqueles que têm algum componente julgado feminino. “A cultura masculina modificou-se muito nos últimos tempos. O papel do homem mudou dramaticamente e hoje alguns deles deixaram de ser predadores para tornar-se alvo deles. Algumas vítimas são homens que desafiam o padrão estético da masculinidade heterossexual. Outras, são jovens que chegam no primeiro trabalho com uma certa ingenuidade e não sabem como lidar com o assédio masculino. Ficam onstrangidos em falar sobre o assédio da chefia”, explica Uggen, que se interessou em estudar o assunto depois que a Suprema Corte americana determinou, em 1998, uma indenização a um trabalhador que foi estuprado no banheiro por um companheiro de trabalho. A mais alta instância da Justiça americana usou a lei federal de direitos civis, de 1964, para determinar a proibição de abusos de homens para homens. Desde então, não param de chover denúncias contra homens, digamos, demasiadamente assanhados com pessoas do mesmo sexo.
O mais recente e polêmico caso foi o do governador de Nova Jersey, James McGreevey. Casado, McGreevey assumiu ser gay e renunciou no mês passado, depois de sofrer um processo judicial de seu segurança, Golan Cipel, que o acusou de assédio sexual. Em 2002, a rede de concessionárias Burt Chevrolet e LGC management, no Estado do Colorado, desembolsou US$ 500 mil para indenizar dez ex-funcionários que acusavam a chefia de abusos sexuais. Os vendedores contaram que o gerente agarrava genitais deles, contava piadas impróprias e, certa vez, colocou seu próprio membro em exposição, na loja de carros. Na mesma Nova Jersey de McGreevey, um funcionário da empresa
Babies R Us recebeu, no ano passado, nada menos que US$ 205 mil por ter sido ridicularizado perante os colegas.
“Há mais pessoas se queixando disso porque existe uma maior atenção para o assunto”, conclui Caroline Wheeler, advogada da Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego (Eeoc). A entidade também fez sua pesquisa sobre o tema e concluiu que as queixas de assédio cresceram de 9%, em 1992, para 15%, em 2003. Curiosamente, as mulheres quase não assediam os homens. Timidez? Segundo o pesquisador Uggen, isso é reflexo da sociedade machista em que vivemos. E ele dá um conselho: quem for vítima desse apetite descontrolado deve botar a boca no trombone. Até para que não valha mais a máxima “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.