29/09/2004 - 10:00
Música no ar, vinda das varandas dos sobrados da rua da Quitanda. É a Vesperata, gênero musical único, no qual, ao contrário da serenata, os músicos tocam de dentro das casas para o público na rua. Esta é uma das maiores atrações de Diamantina, cidade histórica de Minas Gerais “onde nasceu JK”, como canta o samba de Sérgio Porto. Patrimônio cultural da humanidade desde 1999, o município resolveu ir além da beleza de sua arquitetura colonial e investiu em outra tradição centenária, a música, para atrair turistas de todas as partes. Agora acaba de conquistar uma verba de R$ 220 mil – até o final do ano – do Ministério do Turismo para consolidar o sucesso dos projetos na área.
Um dos destaques dos projetos musicais é justamente a Vesperata, apresentação que enche os olhos dos turistas. Tudo começou na campanha para a eleição da cidade como patrimônio da humanidade, no final dos anos 90. A música, aprendida em conservatórios, nas salas de aula das escolas e na tradição dos violeiros e artistas populares, já era parte do cotidiano de Diamantina. Desenvolver uma programação constante foi o passo seguinte, segundo o jornalista Américo Antunes, que coordenou a campanha vitoriosa na Unesco. “Na Vesperata, tocam músicos da banda da PM e da banda infantil, com crianças e jovens das escolas da cidade. E outros grupos musicais completam as opções de arte para o visitante”, afirma.
Somando-se ao show de sons vindos do alto, a cidade organizou os grupos de seresteiros, de danças típicas formados por crianças, como as Pastorinhas, e de música clássica e de Câmara, a cargo dos alunos do Conservatório Musical Lobo de Mesquita. Os palcos, além da rua da Quitanda, onde os sobrados criam um espaço acústico perfeito, incluem igrejas centenárias, como a de São Francisco, ou a capela de Chica da Silva, ex-moradora ilustre da cidade. Sem falar das ruas e dos becos, onde as serestas – que, em geral, sucedem as Vesperatas – arrastam centenas de turistas a uma tradição de beleza. A temporada é interrompida de novembro a março, época das chuvas. O sucesso do projeto, que está no quarto ano, pode ser medido pelo apoio oficial dado pelo ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia. Nascido em Ouro Preto, ele garante que Diamantina, cidade rival desde os tempos do ciclo do ouro e do diamante, tem muito a ensinar à sua cidade natal. “Aqui foi encontrada uma forma original de atrair o turista, investindo na arte, na cultura e nas tradições”, afirmou após assistir, extasiado, a uma Vesperata.