29/09/2004 - 10:00
As semanas seguintes às Olimpíadas têm sido carregadas de emoções fortes nos últimos anos. Entre surpresos e comovidos, os brasileiros acompanham atletas do País com algum tipo de limitação física na luta para superar as barreiras mais variadas e atropelar recordes pessoais e gerais para conquistar, na Paraolimpíada, um número maior de pódios do que os obtidos pelos colegas dias antes, nos Jogos mais badalados. Ao que tudo indica, a bonita história de superação será repetida agora, em Atenas, pelos 98 atletas (21 mulheres e 77 homens) enviados pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) para disputar 13 das 19 modalidades dos Jogos. Ao final dos seis primeiros dias de competição, o Brasil ocupava a 15ª posição no ranking geral e a 18ª na soma de medalhas entre os 136 países em disputa, com 14 medalhas ? oito ouros, seis pratas e dois bronzes. O número de medalhas douradas já é recorde em participações paraolímpicas. ?O total de pódios não será muito maior do que o de Sydney?, especula, de Atenas, Marco Túlio de Mello, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador da equipe de avaliação do CPB, uma das mais eficientes do mundo paraolímpico. ?Deveremos ganhar entre 22 e 25 medalhas. O que mostrará o avanço será, sem dúvida, o total de ouros. Espero vitórias no futebol, outras na natação e também na maratona. Aposto em pelo menos 12 ouros?, completa Mello. Gaspar Nobrega/CPB Divulgação Tenório: bom humor e golpes precisos no judô A turma brilhante é liderada por três atletas especiais: os velocistas Ádria dos Santos e Antônio Delfino e o nadador Clodoaldo Francisco Silva. Ádria, cega desde os 14 anos, é um fenômeno. Na segunda-feira 20, conquistou nos 100 metros rasos sua quarta medalha de ouro em cinco olimpíadas, com 12s55 ? tempo apenas dois segundos e seis centésimos maior do que o recorde mundial de 10s49, da americana ?normal? Florence Griffith-Joyner. Durante a prova, o guia de Ádria, Jorge Silva, o Chocolate, gritou ?vai, vai, vai!?. Na reta final, quando a liderança da brasileira se consolidou, ele passou a berrar: ?Vai, vai, vai que é ouro, vai que é ouro, vai que é ouro…?, enquanto o sorriso da atleta se abria. Ao todo, Ádria soma dez medalhas em paraolimpíadas, seis delas de prata. Em Atenas, poderá ganhar pelo menos mais duas, nos 200 metros rasos, com grande chance de levar outro ouro, e também nos 400 rasos. Clodoaldo, com atrofia nas pernas, evoluiu de forma fulminante. Até a madrugada de sexta-feira 24, tinha ganho três ouros, nos 100 e 200 metros livre e nos 50 borboleta. Muitos apostavam que ele ainda levaria pelo menos mais uma dourada. Ganhou apelidos ? Clodoaldo Recorde da Silva e ?Michael Phelps do Brasil? são alguns deles. As outras medalhas de ouro foram conquistadas pelo excelente Antônio Delfino, atleta com uma das mãos amputadas que venceu os 200 e os 400 metros rasos, por André Garcia, deficiente visual, também ganhador nos 200 metros rasos, e pelo bem-humorado judoca Antônio Tenório, também cego, na categoria até 100 quilos. São provas de que dar chances é o melhor antídoto contra a necessidade de sentir pena