Quando um jovem fala ou pensa rápido demais, se irrita à toa, demonstra sexualidade precoce, abusa de drogas e de bebidas alcoólicas e alterna momentos de euforia com depressão, os pais devem ficar alertas. Ele pode ser vítima de Transtorno do Humor Bipolar (THB), um distúrbio psiquiátrico que vem se mostrando mais frequente do que se imaginava. A crescente procura por ajuda motivou a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro a inaugurar, há seis meses, o primeiro ambulatório gratuito do País para atender ao aumento de demanda entre crianças e adolescentes. De lá para cá, foram atendidos mais de 50 pacientes. No Hospital das Clínicas de São Paulo, onde funciona um serviço de psiquiatria infantil, o índice de pacientes também é grande. “A depressão difícil de curar pode ser um sintoma inicial do THB. De cada 100 crianças com depressão, 20 a 30 evoluem para a disfunção”, contabiliza a psiquiatra Lee Fui, supervisora do centro paulista. A doença também virou tema do livro Temperamento forte e bipolaridade, dominando os altos e baixos do humor, do psiquiatra gaúcho Diogo Lara, recém-lançado.

Os portadores de THB sofrem de uma enfermidade que alterna euforia com tristeza profunda. Mas há outras marcas da doença. Em geral, os pacientes falam demais, gastam muito dinheiro, tendem à prática de esporte radical, consideram-se melhores do que os outros e se sentem desvalorizados. Estima-se que 2% a 3% dos brasileiros sofram do transtorno. Embora sua origem seja desconhecida, há indícios de que existam causas genéticas. Ainda não há cura para o distúrbio. “Não se cura o que não se sabe a causa”, explica o psiquiatra Fábio Barbirato, da Santa Casa carioca. Mas há tratamento para controlar a enfermidade – quando ela não é tratada, há um sério prejuízo da vida social, familiar e profissional. Os altos e baixos de humor e outras características que atrapalham o relacionamento do portador com outras pessoas são tratados com remédios anticonvulsivantes, antipsicóticos e para estabilizar o humor. Além disso, é dado apoio psicológico. O resultado da estratégia costuma ser positivo. D.G., 12 anos, fumava maconha desde os oito e não parava em colégios por causa da agressividade. Sua mãe, M.G., 40 anos, recorreu a vários serviços até descobrir, há três meses, na Santa Casa que ele sofre de THB. “Ele está tomando remédio e começou a melhorar”, conta ela, aliviada.