Um dos pesadelos paranóicos mais comuns é se ver pelado em espaços públicos. O homem nu (1997), de Hugo Carvana, aborda o medo irracional que encerra tal situação absurda através de uma comédia que se integra perfeitamente em sua filmografia de sotaque carioca. Embora fuja um pouco do perfil dos boêmios de Se segura, malandro, Vai trabalhar vagabundo e Bar Esperança, o especialista em folclore Sílvio Proença (Claudio Marzo) não se mostra estranho à fauna  amiga do samba e do chope gelado. É justamente numa roda de bambas que ele conhece Marialva (Isabel Fillardis), com quem passa a noite depois de perder um vôo para São Paulo. Preguiçoso, acorda e vai pegar o pão no corredor do prédio com nada sobre a pele. A porta bate e tranca. Basta ser visto pelo primeiro habitante do edifício para Sílvio pular de ousado a tarado sexual.

Perseguido por um bando que vai aumentando até incluir policiais e repórteres, Sílvio corre pelas ruas da zona sul, pula muros, nada, rouba bicicleta, sequestra carro, até acabar em meio aos mendigos. O triatlo cinematográfico obrigou Marzo a ter um dublê, no que ele concordou plenamente. Baseado na novela A nudez de verdade, de Fernando Sabino, a história já havia sido filmada em 1967, por Roberto Santos, com Paulo José e Leila Diniz. Na versão de Carvana, ele aparece no final, numa atuação afetiva como motorista de táxi, segundo o diretor uma figura carioca emblemática.