Na manhã de terça-feira 28, os relógios marcavam 7h45 na pacata cidade de Carmen de Patagones, no sul da Argentina. Parecia ser um dia de semana normal, com os adultos se dirigindo ao trabalho e as crianças indo para as escolas. Os 400 alunos do colégio de ensino médio Ilhas Malvinas, situado a algumas quadras do rio Negro ? que corta a cidade ?, tinham acabado de participar da cerimônia de hasteamento da bandeira (procedimento de praxe no país) no pátio do colégio e já estavam dentro das respectivas salas de aula, aguardando a chegada dos professores. Mas aquele não seria um dia de aula normal. A exemplo do que ocorre com mais frequência nos Estados Unidos, um adolescente invadiu a sala de aula portando uma arma e atirou a esmo contra seus colegas, produzindo uma daquelas tragédias que aterrorizam uma nação. O garoto tinha 15 anos. O resultado de sua insanidade foi a morte de três adolescentes, duas meninas e um menino ? todos também com 15 anos. Outros seis alunos ficaram feridos, sendo dois em estado grave. Depois de descarregar o pente da pistola 9mm nos colegas, ao contrário do que fizeram Eric Harris e Dylan Klebold, os algozes da tragédia americana de Columbine, o estudante argentino Rafael Soldich Junior não se suicidou. Relatos das testemunhas afirmam que o garoto sentou em um banco e começou a chorar. Assim, ele foi detido pela polícia, em meio ao desespero das crianças e à sirene das ambulâncias. ?Ele estava em estado de choque e não pronunciou sequer uma palavra?, afirmou o delegado Carlos Diego, responsável pelas investigações. Na Argentina, menores de 16 anos são inimputáveis, independentemente do crime que tenham cometido. ?Ele foi levado à sede do Tribunal de Menores, onde será atendido por uma equipe de especialistas?, afirmou a juíza Alícia Ramallo. O garoto é filho de um oficial da Polícia Naval argentina, de quem a arma teria sido roubada. O governo decretou luto oficial de dois dias. A tragédia estarreceu Carmen de Patagones, que pertence à província de Buenos Aires e dista 957 quilômetros da capital. Como sempre acontece nessas tragédias envolvendo adolescentes em erupções de violência gratuitas, as perguntas sobre as razões que levaram o estudante a cometer tamanha atrocidade vinham de toda a sociedade. Inclusive dos parentes do agressor, também chocados com o que aconteceu: ?Ele era um garoto muito tranquilo e introvertido. Eu não consigo entender, nós jamais falávamos sobre armas?, lamentou a tia do garoto. Aliás, entre aqueles que o conheciam, era consenso que nada havia em sua personalidade que pudesse indicar qualquer tipo de desvio psicológico. ?Fiquei muito surpreso porque ele era um garoto extremamente calmo?, afirmou um colega de escola ao jornal argentino Clarín. O secretário de Cultura e Educação da província de Buenos Aires, Mario Oporto, foi o porta-voz da incredulidade da nação: ?Uma escola deveria ser um local de proteção. Esse massacre ultrapassa todos os limites de violência que alguém pode esperar.? * Linha dura – O Congresso argentino discute a redução da maioridade penal de 16 para 14 anos desde abril, quando Juan Carlos Blumberg, que teve o filho morto num sequestro, enviou uma petição