O Estado Novo e os militares tentaram, mas não conseguiram liquidar o Partido Comunista do Brasil. Fundado em 1922, manteve-se fiel aos ideais marxistas e à tradição de deliberar em congressos e conferências. Viu ruir o legado comunista da União Soviética, passou por revisões, ameaças de extinção e crises existenciais até chegar ao nono congresso, em que decidiu apoiar o governo Lula. É este apoio que está colocando o PCdoB numa encruzilhada. O partido tem 11 deputados, mas pode perder pelo menos dois. Estão insatisfeitos com o comando partidário Sérgio Miranda (MG) e Alice Portugal (BA). “Eu não estou rompendo. Se chegar à avaliação de que não há convivência com o partido, vou decidir depois da eleição,” afirma Miranda, que foi cobrado por ter votado contra o salário mínimo e a reforma da Previdência. “É um constrangimento constante”, reclama Miranda, que tem 35 anos de militância e está licenciado do comitê central.

Os rastros de debandada de quadros históricos estão espalhados por Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e, principalmente, São Paulo. Em agosto o vereador paulistano Cláudio Fonseca saiu do partido com outros 90 filiados. Cansado de ser enquadrado pela direção ao se opor à prefeita Marta Suplicy, Fonseca desabafou: “Em São Paulo é o mais puro fisiologismo. O partido é quase uma propriedade do governo municipal, como acontece no plano federal. Aqui impera o mandonismo e a subserviência.” O maior motim, no entanto, ocorreu em São Bernardo do Campo. Lá 80% dos filiados já deram adeus ao PCdoB depois que a direção estadual interveio no diretório e proibiu os dirigentes locais de falar em nome do partido. Determinante mesmo foi a relação com a direção nacional. “Negar toda a história do PCdoB em troca de cargos no governo e defender a política econômica que sempre combatemos não dá. Esse adesismo total ao governo nos envergonha,” diz Anderson Magolin, ex-dirigente do partido em São Bernardo. Em Jundiaí, por exemplo, os 11 dirigentes romperam depois de um arranca-rabo com o PT local. Os petistas passaram uma pesquisa maquiada para o PCdoB, que entrou com uma representação contra o PT. A direção, em nome da boa convivência com o PT, determinou a retirada da ação. Depois da imposição, o PCdoB de Jundiaí deixou de existir. “Não vale tudo pelo poder. Entramos unidos e saímos unidos”, resume Aurélio Santucci, ex-presidente do partido. Ameaçado por cláusulas de barreira, a Kombi do PCdoB pode ter lugares de sobra em breve.