06/10/2004 - 10:00
Diz a lenda que as brasileiras estão entre as mulheres mais lindas do mundo. Falta convencê-las disso. Uma pesquisa internacional encomendada pela Dove (marca da Unilever) e realizada com 3,2 mil mulheres de 18 a 64 anos em dez países colocou as brasileiras na segunda posição entre as mais insatisfeitas. Conforme os resultados do estudo, coordenado pelas psicólogas Nancy Etcoff, professora da Universidade de Harvard (EUA), e Susie Orbach, da London School of Economics, na Inglaterra, 37% delas não estão nem um pouco contentes com a aparência física, perdendo apenas para as japonesas, com 59% de insatisfação, e à frente de Estados Unidos e Inglaterra, com 36%. Somente 6% das brasileiras se consideram belas e 1% se descreve como “bonita”.
Modéstia? Nenhuma. Os números alertam para um declínio monumental da auto-estima feminina, combalida diante de padrões de beleza considerados inatingíveis. Para 13% das compatriotas de Gisele Bündchen, apenas as top models são bonitas. “Essa insatisfação é resultado do alto nível de exigência. Morei em Beverly Hills, onde vivem as mulheres mais lindas da Califórnia, e não via metade da preocupação com a beleza que vejo no Brasil”, compara o psicanalista carioca Luiz Alberto Py, autor de A felicidade é aqui. “Mesmo sabendo que a beleza de capa de revista é um mito, elas não ficam felizes enquanto não a alcançam”, completa. O resultado é o crescimento nas vendas de cosméticos. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) apontam um crescimento de 18,8% no faturamento do setor no último ano. “O Brasil está entre os dez maiores mercados de cosméticos do mundo. As mulheres se sentem pressionadas a possuir uma série de atributos em diversos quesitos, como senso de estilo, peso ideal e forma física”, analisa o diretor de marketing da Unilever no Brasil, Fabio Prado. Não é à toa, portanto, que dietas como a pregada pela medicina ortomolecular e produtos só para os lábios façam tanto sucesso por aqui.
Outro desdobramento da insatisfação é a busca exagerada por cirurgias plásticas. De acordo com a pesquisa, 54% das brasileiras já consideraram submeter-se a intervenções estéticas e 7% afirmaram já ter feito pelo menos uma, o número mais alto entre os dez países. “Os dados surpreendem. Não acho que as brasileiras sejam tão insatisfeitas. É óbvio que todas querem melhorar, mas não a ponto de se sentirem mal quando impossibilitadas de realizar uma cirurgia”, acredita Luiz Carlos Garcia, conselheiro e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Para a dermatologista carioca Adriana Drummond, apesar de surpreendente, o número é plausível. “As mulheres estão sempre em busca da perfeição. Percebo isso em meu consultório”, diz ela.