31/01/2007 - 10:00
Se todas as iniciativas do Programa de Aceleração do Crescimento, nenhuma foi tão ousada quanto a tentativa de criar uma nova política de governadores. Houve uma época em que um governador podia nomear funcionários sem concurso público, manter uma folha de pessoal superior à arrecadação, usar o banco estadual para captar dinheiro até no Exterior e contratar obras sem possuir os recursos para a empreitada. Ninguém seria condenado por isso. Os deputados giravam em torno dos palácios estaduais e o encontro dos governadores com o presidente se traduzia em votos no Congresso – com o empenho de apenas quatro governadores e um ministro, por exemplo, José Sarney garantiu o quinto ano de mandato.
Vieram então a obrigatoriedade dos concursos, a liquidação de bancos, o ônus
de sustentar aposentados precoces e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Com o
fim da cumplicidade federal, o encontro deles com o presidente se tornou apenas uma foto nos jornais, de pouca conseqüência prática. A política de governadores perdeu eficiência, ainda que alguns tenham trocado estatais pelo poder do dinheiro em caixa.
Na segunda-feira 22 de janeiro, o presidente Lula abriu o terceiro capítulo dessa história – e o seu desfecho é ainda incerto. Os orçamentos dos 27 governadores estão divididos entre os quebrados e os engessados. Sem poder fazer novos investimentos e com ambições superiores ao controle sobre as bancadas, eles vão a Brasília no dia 6 de março sob a ameaça de infernizar a vida do presidente. Na negociação que já começou, Lula pode compensá-los pela prorrogação da CPMF e da DRU. Os dois lados vão louvar o bom êxito da nova política de governadores, mas o presidente corre o risco de deixar o encontro sentindo saudades dos pedidos do baixo clero do Congresso.
Luciano Suassuna é Diretor de redação da Revista ISTOÉ Gente