03/12/2008 - 10:00
Colunistas
Leonardo Attuch
attuch@istoe.com.br
O Katrina agora é aqui
Na semana passada, um dos últimos mitos brasileiros – o do país abençoado, sem furacões, terremotos ou quaisquer desastres naturais – desmoronou. Foi levado pelas águas das chuvas. A tragédia catarinense, com sua centena de mortes e milhares de desabrigados, foi a prova definitiva de que o Brasil não está imune aos efeitos do aquecimento global. Culpa do resto do mundo? De grandes poluidores, como os Estados Unidos, que não assinaram o Protocolo de Kyoto?
Nem tanto. Na verdade, todos os estudos sérios sobre o tema, como o do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, nos apontam como um dos cinco maiores emissores de dióxido de carbono do mundo, em função das queimadas na Amazônia e da existência aqui do maior rebanho bovino do mundo. Apesar disso, a posição do País nos foros internacionais tem sido defensiva. Em vez de liderar a agenda verde e propor soluções, o Itamaraty rejeita que o Brasil seja rotulado como poluidor e age como se a busca de saídas fosse tarefa apenas dos países desenvolvidos.
Essa cegueira ambiental já não é mais tolerável. Especialmente porque o Brasil não só é responsável pelo aquecimento, como também uma de suas vítimas. Além de chuvas mais intensas no Sul, o que se prevê é que boa parte da Amazônia se transformará em savana e que grandes metrópoles litorâneas ficarão submersas em menos de 50 anos. O lado perverso desse fenômeno é que ele atinge mais as regiões tropicais. Países temperados poderão até vir a ter mais uma estação biológica de crescimento e cultivo agrícola. No entanto, apesar de todos os alarmes, o PAC, carrochefe do governo Lula, passa ao largo da questão ambiental. E o ministro da área, o midiático Carlos Minc, parece mais preocupado em ocupar manchetes do que em gerar resultados concretos. Dias atrás, acompanhado de equipes de televisão, ele cometeu uma gafe terrível ao multar e prender um fazendeiro por engano – as coordenadas geográficas estavam erradas.
Desta vez, o presidente Lula viveu seu Katrina e, assim como George W. Bush, só decidiu visitar os locais atingidos pela catástrofe após ser cobrado pela opinião pública. De qualquer forma, mais do que a ajuda federal, o que trará a região de volta à normalidade é a fibra do povo catarinense – a Oktoberfest foi criada em 1984, depois que uma grande enchente arrasou Blumenau. O que se espera agora é que o Brasil deixe de tapar os olhos e assuma sua responsabilidade na questão ambiental. O tempo da alienação acabou.