O diretor Joel Zito Araújo conseguiu a façanha de reunir um elenco com os principais atores negros do País em Filhas do vento (Brasil, 2005), em cartaz nacional na sexta-feira 16. Estão lá, impecáveis, Milton Gonçalves, Ruth de Souza e Léa Garcia. Mas a saga das irmãs Maria Aparecida e Maria da Ajuda, vividas na velhice por Ruth e Léa, respectivamente, não convence. Criadas pelo marrento Zé das Bicicletas (Milton Gonçalves), elas foram separadas por um equívoco e só conseguem se perdoar décadas depois, já mães e avós, no dia do enterro do patriarca. A cena da morte, aliás, é uma cópia – ou uma homenagem, quem sabe – da de Don Corleone, de O poderoso chefão. Como o personagem de Marlon Brando, Zé das Bicicletas tem um infarto ao brincar com a netinha, morrendo entre roupas que secam num varal. A idéia de reforçar o sotaque mineiro (as irmãs são de Lavras Novas) com “uais” e “sôs” fora de hora atrapalha a atuação de Thaís Araújo e Thalma de Freitas, que vivem as irmãs na juventude. Além disso, o filme torna-se repetitivo no abuso do discurso da condição do negro no mundo artístico, mostrando-se às vezes como um panfleto ressentido.