No filme Depois de horas, de Martin Scorsese, um ladrão insiste em levar uma múmia – na verdade, um operador da Bolsa enfaixado em gazes por uma artista vingativa – que encontraram no apartamento roubado. “Isso é arte, cara”, diz ao colega. Não há como não lembrar da cena ao ver a série de 150 vacas distribuídas pelos pontos principais de São Paulo na CowParade, intervenção urbana que já passou pelas principais cidades do mundo. Feitas de fibra de vidro, as Clarabelas foram repaginadas por artistas, estilistas e arquitetos, entre outros. Só na avenida Paulista cinco delas intrigam os pedestres, como aquela malhada, com turbante de frutas, que a artista Patricia Golombek apelidou de Cowmen Miranda. No Terminal Rodoviário do Tietê, saúdam os viajantes a Cowpirinha, de Pablo Menezes, e a Vaca turista, de Durville Cavalcanti, vestida de camisa florida.

Ao contrário do divulgado, não é a primeira vez que as vacas pastam nas cercanias da capital paulista. Há cinco anos, o artista Nelson Leirner criou uma ruminante gay, toda cor-de-rosa, que alegrou a entrada da Faap, em Higienópolis. “Arte é aquilo que é colocado como arte, não o objeto em si”, explica Leirner, que cita o urinol de Marcel Duchamp como exemplo. Outra artista que já havia deixado sua marca na parada do passado é Regina Silveira, que desta vez está achando as meninas muito peruas. “Elas estão muito enfeitadas”, afirma Regina, que fez uma vaca verdinha, toda de grama sintética. “A gama que vai do medíocre ao excelente é a mesma em qualquer linguagem”, afirma a artista. Cabe, então, ao público decidir.