14/09/2005 - 10:00
As constantes lesões apresentadas por jogadores exaustos devido ao excesso de jogos, a obsessiva busca pela boa forma, por um lado, e o sedentarismo endêmico, por outro, estão exigindo que a medicina compreenda melhor como funciona o sistema músculo-esquelético humano. A partir de informações mais bem detalhadas, é possível criar tratamentos mais eficazes para que os casos de contusões ou outros problemas que acometam os músculos sejam menos freqüentes. Nesse esforço, uma especialidade médica tem se destacado. A patologia muscular, especialidade da anatomia patológica, é capaz de oferecer um diagnóstico certeiro a partir da análise de amostras do tecido dos músculos.
Esses exames possibilitam, por exemplo, confirmar ou não suspeitas de doenças neuromusculares, como as distrofias musculares, um grupo de enfermidades de origem genética responsáveis por uma degeneração progressiva dos músculos. Um exemplo é a distrofia do tipo Duchenne. Em geral, seus sintomas aparecem dos três aos cinco anos (a criança sofre quedas freqüentes, tem dificuldade para levantar ou correr e apresenta aumento do tamanho das panturrilhas, entre outros sinais).
As investigações realizadas pelos patologistas musculares também fornecem um bom retrato do que houve com atletas submetidos a intensa atividade física, auxiliando na identificação da origem e no direcionamento do tratamento de eventuais lesões. Recentemente, a especialidade produziu a elaboração de um prognóstico que deixou otimista o atacante Fabrício Carvalho, 27 anos, do São Caetano. Há seis meses, o atleta foi afastado do futebol depois de exames terem detectado uma arritmia cardíaca. O médico Beny Schmidt, professor-adjunto de anatomia patológica da Universidade Federal de São Paulo e chefe do Laboratório de Patologia Neuromuscular da instituição, no entanto, garantiu que ele pode voltar aos campos. O especialista baseia sua conclusão – registrada em cartório – nos resultados obtidos após a realização de uma biópsia muscular.
Schmidt estuda patologia muscular há 25 anos. Até o final do ano, lançará o livro Patologia muscular (Ed. Manole), no qual estarão reunidas as análises de oito mil biópsias musculares e considerações a respeito dos casos de cerca de 15 mil pacientes. Baseado em sua experiência, o médico defende uma prática esportiva mais consciente. “O esporte gera saúde. Só não produz esse resultado quando se exige mais da capacidade do organismo. É preciso ter bom senso na prática da medicina e do esporte”, afirma.