14/09/2005 - 10:00
Fazer turismo não se limita mais a conhecer novos destinos. Milhares de pessoas passaram a se deslocar no mundo em razão do chamado turismo reprodutivo. Ele é promovido por casais ou solteiros que apresentam distúrbios de infertilidade, mas desejam ter um filho. E é muita gente. Segundo a Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia, cerca de 15% da população mundial tem problemas de fertilidade. Isso equivale a nada menos que 1,2 bilhão de pessoas. No entanto, elas enfrentam dificuldades para realizar o sonho na terra natal. Ou porque o custo dos tratamentos é alto demais ou porque a legislação que regulamenta a especialidade é tão restritiva que impede a concretização do objetivo, quando não as duas coisas juntas.
China – Nesse movimento, o Brasil está se tornando um dos principais destinos. Na Clínica e Centro de Pesquisa em Reprodução Humana Roger Abdelmassih, em São Paulo, enquanto durante todo o ano de 2004 foram atendidos 22 casais estrangeiros, só no primeiro semestre de 2005 já tinham passado por lá 35 casais vindos de outros países. Na Clínica Diason, também na capital paulista, o movimento de estrangeiros nos primeiros seis meses deste ano já se equiparava ao total contabilizado em 2004 inteiro. “Eles vêm de várias partes do mundo. Já atendi gente da Holanda, da Venezuela e do Suriname, por exemplo”, conta o médico Paulo Perin, da Diason. Na Origen, clínica com centros em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, este tipo de atendimento aumentou 120% em relação ao ano passado. “Recebemos até chineses”, conta o médico Marcello Valle, da Origen.
As razões da escolha do Brasil são variadas. A primeira é o preço dos tratamentos. Aqui, uma tentativa de fertilização in vitro, a FIV (união de óvulo e espermatozóide em laboratório e posterior implantação do embrião no útero), custa entre R$ 7 mil e R$ 12 mil. Nos EUA, o procedimento custa cerca de US$ 8 mil (em torno de R$ 18,6 mil). Além disso, para cidadãos que ganham em euro ou em dólar, qualquer gasto por aqui faz apenas cócegas no bolso. Entretanto, o preço ainda vem acompanhado de um ótimo padrão nos serviços ofertados. “Temos excelentes resultados, equivalentes aos dos melhores centros do mundo”, garante o médico Roger Abdelmassih. Entre os que buscaram ajuda na clínica que leva o nome do especialista estão Kristena, 35 anos, e João Mesquita, 40 anos. Ela é americana e ele, brasileiro. Os dois moram em Miami, nos EUA, e queriam um bebê havia quatro anos. A FIV feita aqui deu certo na primeira tentativa. “Nos EUA, o tratamento era mais caro e os médicos não nos explicavam a situação claramente”, conta Kristena, hoje a feliz mãe de Skyla, 15 meses. O casal está de novo no Brasil para tentar um segundo filho.
A liberalidade da legislação brasileira é outro ponto que conta a favor. Segundo Dirceu Pereira, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, aqui há a possibilidade, por exemplo, da doação de óvulos. Na Itália, entre outros países, isto é proibido. No Brasil, podem-se implantar até quatro embriões, enquanto na Alemanha e na Suíça há autorização para colocação de apenas um (quanto mais embriões são implantados, maior a chance de gravidez. Porém, o ideal é implantar no máximo dois para evitar a ocorrência de gestação múltipla). Outro atrativo é o que o especialista Isaac Yadid, paulista radicado no Rio de Janeiro, chama de carinho brasileiro. É a velha e conhecida amabilidade que acaba encantando, até nos mínimos detalhes. “Aqui todos são chamados pelo nome e até isso faz diferença”, observa Yadid. Em sua clínica, a Huntington, o médico recebeu este ano 24 casais de estrangeiros em busca de um bebê, made in Brazil, of course.