Em maio do ano passado, o rapper paulista Humberto Arruda, conhecido nas baladas como DJ Hum, sacudiu as pistas nacionais com o hit Senhorita. Sem gravadora, ele lançou seu próprio selo e montou a banda Motirô. “Primeiro fiz a música em vinil e levei para tocar nas baladas de black music. O sucesso foi tanto que recebi a proposta para fazer um ringtone”, diz o DJ, que percebeu nas campainhas de celular uma coqueluche mundial quando foi discotecar em Londres. “Lá o ringtone é uma febre.”

De olho nas músicas mais tocadas tanto em rádios quanto nas casas noturnas, Leonardo Xavier, diretor da empresa de entretenimento para celular Ligaki, procurou DJ Hum para fechar contrato de exclusividade. “Percebi que Senhorita iria conquistar o público, foram 65 mil downloads”, conta Xavier. Tamanho sucesso rendeu ao grupo Motirô o prêmio “Celular de Ouro”, uma releitura do Disco de Ouro, entregue pelas gravadoras aos artistas que vendem mais de 50 mil cópias. O troféu já foi para artistas como Pitty, Dogão e CPM22, que bateram os 50 mil downloads. “O celular tem altíssimo poder de pulverização; afinal são mais de 68 milhões no Brasil, e o baixo custo do download facilita a divulgação do trabalho”, garante Xavier. Depois do barulho, o grupo Motirô, do DJ Arruda, fechou contrato com a gravadora EMI e já toca até nas rádios.

Mina de ouro – DJ Hum não é o
único artista a divulgar seu trabalho primeiro no celular. Vedete da
tecnologia portátil, esses aparelhos diminutos roubam a cena no circuito musical. A função básica de fazer e receber chamadas fica cada vez mais
em segundo plano. Todos os meses,
os brasileiros baixam uma média de cinco milhões de toques de campainha, ou quase 170 mil músicas por dia. O custo médio de um ringtone varia de
R$ 2 a R$ 6. Por baixo, significa um faturamento de R$ 340 mil ao dia.

Criada em 1999, a Takenet foi a pioneira nesse mercado e é dona de três em cada cinco músicas baixadas. Seu recorde foram 250 mil downloads num único dia. Estima-se que seu faturamento mensal seja de R$ 100 milhões. Só em agosto foram quatro milhões de tons baixados. Desde março, a empresa é responsável pelas ações na América Latina e para a comunidade latina nos Estados Unidos.

Na Toing, que vende toques musicais para mais dez países, o Brasil responde
por um milhão de downloads. “Nosso próximo passo é uma loja virtual de músicas para os usuários de celular com mp3 player”, conta Fabián de la Rúa, presidente
da empresa, que contratou um aluno de música erudita para reproduzir no teclado
e no computador os hits mais procurados. “Fazer um ringtone é tão complexo
quanto qualquer outra modalidade musical”, diz o músico Maurício Roger Simão,
que faz até 15 versões para cada toque de campainha, por causa dos diferentes recursos dos celulares.

Convergência – Do casamento entre a indústria musical e a de telefonia celular saem sempre novos frutos. Primeiro vieram os toques feitos de notas, os chamados ringtones. Depois foi a vez do truetone, campainha que reproduzia trechos de música. Agora é a vez de ouvir o som favorito do começo ao fim, com o recurso mp3. No mês passado, os japoneses baixaram mais músicas digitais pelo celular do que para tocadores de música mp3. No primeiro semestre foram 108,9 milhões de canções, ou US$ 123 milhões. Não é à toa que a Apple, dona do mais popular tocador de músicas digitais da história, enfim anunciou o primeiro iPod com função de celular.

Fabricantes e operadoras aproveitam a música para atingir o coração dos jovens, uma vigorosa força de consumo. E ocupam o vácuo deixado pela ausência de empresas de cigarro e de bebida, que antes promoviam múltiplos festivais musicais. “Esperamos vender este ano 40 milhões de celulares com mp3 no mundo”, diz Carlos Bastos, diretor de multimídia da Nokia, um serviço que rendeu três bilhões de euros em 2004. A empresa finlandesa lança no final do mês o N91, que guarda três mil músicas. No mesmo embalo está a Sony Ericsson, que transformou seu tradicional walkman no celular W800, que armazena 12 CDs. “Nossa preocupação foi ter um produto inteligente que organizasse as músicas por listas de mais tocadas ou por estilo”, explica Silvio Stagni, vice-presidente da Sony Ericsson.

Há quem pense que unir telefone e tocador de músicas num único aparelho seja apenas marketing ou uma fonte de geração de pulsos e tarifas para o cofre das telefônicas. Para outros, é o ponto alto de uma tendência há muito anunciada: a convergência tecnológica, que reúne num único dispositivo as funções antes dispostas em vários, como televisão, som, agenda eletrônica, despertador, câmera de foto e de vídeo. Se, além de tudo isso, o celular tiver um design digno de causar inveja nos amigos, aí então fica difícil resistir.