14/09/2005 - 10:00
Entendeu o que está escrito ali em cima? Costuma ler revistas sem dificuldade? Então, parabéns! Você pertence ao seleto grupo de brasileiros capaz de decodificar as informações presentes em um texto longo, privilégio de um quarto da população. O Instituto Paulo Montenegro, braço social do Ibope, acaba de divulgar, em parceria com a ONG Ação Educativa, os resultados da edição 2005 do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf), criado em 2001 para investigar a capacidade cognitiva dos brasileiros. Nos anos pares, o objeto da pesquisa são as operações matemáticas; nos anos ímpares, o assunto é português. Entende-se por alfabetismo funcional a capacidade de emprego do conhecimento para o desempenho da cidadania e das atividades cotidianas.
A análise comparativa dos resultados obtidos até hoje aponta para a necessidade de se revolucionar o sistema de ensino no País. Enquanto a taxa de analfabetismo absoluto caiu de 9% para 7% desde 2001, a turma dos plenamente alfabetizados manteve-se em 26%. Os restantes, apesar de saberem ler e escrever, não ultrapassam os limites de um anúncio, uma faixa de trânsito ou uma manchete de jornal. Para a diretora da Ação Educativa, Vera Masagão, não basta universalizar o acesso à escola. “É preciso melhorar o ensino. Apenas 67% dos brasileiros de 15 a 64 anos completaram a oitava série. Esse grupo tem um desempenho cognitivo pior do que em 2001”, diz ela. Nem o ensino médio dá conta do problema. Dentre os três patamares de alfabetização funcional considerados pelo Inaf – rudimentar, básico e pleno –, 36% dos que passaram pelo menos 11 anos na escola foram enquadrados no “nível básico” e 7% no “nível rudimentar”. “É triste que uma pessoa aprenda a escrever uma ou duas frases e volte para casa dizendo-se alfabetizada”, diz Fábio Montenegro, secretário executivo do Instituto Paulo Montenegro. “Logo ela vai perceber que tudo continua igual. Ela ainda não consegue ler bula de remédio, não sabe verificar a validade dos produtos nem calcula um desconto de 10% oferecido por uma loja”, diz.
Um primeiro subproduto gerado pelo indicador foi o encontro Lema (Leitura, Escrita e Matemática para a Alfabetização), realizado entre a sexta-feira 9 e o sábado 10, em São Paulo, com representantes de 60 iniciativas brasileiras bem-sucedidas de combate ao analfabetismo funcional. A próxima etapa é estabelecer parceria com o empresariado para começar a solucionar o problema. Acaba de ser criado o Inaf Empresarial, voltado a ambientes corporativos. “Não adianta fixar um comunicado e achar que ele será compreendido por todos os funcionários. Com o indicador, vamos verificar o grau de alfabetização nas empresas e, a partir daí, gerar programas de educação continuada para os que não obtiverem resultados satisfatórios”, diz Montenegro. Ele explica que isso sai mais barato do que realizar demissões e anuncia a criação do Prêmio Inaf para celebrar os melhores projetos.