14/09/2005 - 10:00
O escândalo do mensalão deu um bom refresco ao ex-prefeito Paulo Maluf. Um dos políticos mais associados a denúncias de corrupção, Maluf estava quietinho, vendo o circo pegar fogo em outros terreiros. Mas a folga acabou. A Polícia Federal (PF) pediu a sua prisão preventiva, a de seu filho Flávio e a de seu sucessor na prefeitura, Celso Pitta. Há anos enrolado com várias acusações, como a de ter contas ilegais no Exterior, Maluf agora ficou mais encrencado com os depoimentos do doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi. O doleiro contou à PF que pai e filho movimentaram, ilegalmente, no Exterior cerca de US$ 161 milhões. A maior parte desse valor passou, segundo Birigüi, pela conta Chanani no Safra National Bank de Nova York. Também disse que, por ordem de Flávio, transferiu US$ 5 milhões para Duda Mendonça em uma conta no Citibank de Nova York, em 1998 – quando o publicitário fez a campanha de Maluf para o governo do Estado, perdida para o tucano Mário Covas.
Duda, que já admitiu ter recebido dinheiro de Marcos Valério em uma conta nas Bahamas pela campanha do PT, será intimado pelo Ministério Público estadual (MP) a depor em um inquérito civil que investiga desvios de recursos públicos, remessas ilegais para o exterior, corrupção e improbidade. A PF e o MP acreditam que o dinheiro movimentado foi desviado de obras nas gestões de Maluf (1993-1996) e de Pitta (1997-2000). Para azar de Maluf, suas conversas telefônicas com o advogado José Roberto Leal, com Flávio e deste com o próprio Birigüi foram gravadas pela polícia. Nas gravações, Flávio chama Birigüi de “amigo” e pede ao doleiro que ao depor não esqueça da conversa que haviam tido. Para a PF, Maluf e Flávio tentaram intimidar a testemunha. Daí o pedido de prisão preventiva. Seus advogados entregaram uma defesa prévia. O Ministério Público federal endossou, na quinta-feira 8, o pedido da PF à Justiça Federal. A assessoria de Maluf disse que não há provas contra ele ou Flávio e acusou o doleiro de tentar extorqui-los.
Irritado, Pitta ameaçou processar o ex-padrinho e lamentou: “Foi um péssimo negócio entrar na política pelas mãos de Paulo Maluf. Isso custou meu casamento.” Documentos do Safra National Bank de Nova York mostram a existência de depósitos feitos em 1998 na conta Chanani, totalizando US$ 10,98 milhões. Esses valores batem com denúncia feita em 2002 por Simeão Damasceno de Oliveira, ex-diretor da construtora Mendes Júnior, sobre superfaturamento na construção da av. Águas Espraiadas (hoje Jornalista Roberto Marinho). O ex-prefeito sempre negou ter contas no Exterior. Nunca é demais lembrar: Maluf chegou a afirmar que, se tivesse, “doaria à Santa Casa de São Paulo”. Já prometeu também – em tom de desafio a uma acusação de que teria conta na Suíça – que quem achasse o dinheiro poderia embolsá-lo. Ainda haverá chance de cobrar as promessas. Maluf pensa em trocar o PP (do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti) pelo PTB (de Roberto Jefferson). Ameaça candidatar-se a deputado federal.