07/09/2005 - 10:00
A uva carménere faz o gênero temperamental, mas sua personalidade começa a seduzir os paladares brasileiros. Originária de Bordeaux, na França, foi extinta após a epidemia da phylloxera, praga que devastou todos os vinhedos da Europa, no final do século XIX. Segundo Arthur Azevedo, diretor da Associação Brasileira dos Sommeliers, em 1994, um ampelógrafo – estudioso do formato das folhas de parreira –, em viagem de férias no Chile, descobriu a então extinta carménere no meio das parreiras de uva merlot. O achado mudou a história do vinho no Chile e promete fazer barulho no Brasil, onde sua comercialização começou há alguns meses.
Enquanto a merlot é uma das primeiras uvas tintas a ser colhidas, a colheita da carménere é bastante tardia. “Este é o cerne da questão. A carménere verde era colhida junto com a merlot madura, conferindo ao vinho um sabor bastante desagradável e de taninos muito duros”, explica Azevedo. Taninos são substâncias que conferem adstringência à bebida. Com a separação da colheita das uvas, a partir de 1999, iniciou-se o difícil aprendizado dos enólogos chilenos no manuseio da carménere, uva caprichosa e de difícil cultivo. Todos os esforços foram feitos para que a safra fosse colhida no seu melhor ponto de maturidade. Deu certo.
Em junho deste ano, o Ventisquero Carménere Reserva 2003 recebeu o prêmio máximo no concurso francês Les Citadelles du Vin, concedido por uma banca formada por 60 especialistas, que avaliaram 1.353 amostras de 30 países. O Ventisquero foi escolhido o melhor vinho do Chile. A bebida de tom vermelho-azulado profundo, com delicioso aroma de frutas, chocolate e especiarias (pimenta vermelha), textura sedosa, bom corpo e com sabor de longa persistência pode ser encontrada a R$ 39. Outras boas opções de carménere listadas por Arthur Azevedo são Viña Casablanca El Bosque, Ventisquero Grey, Concha y Toro Winemaker’s Lot, Odfjell Orzada, Santa Carolina Barrica Selection, Viu Manent, Cono Sur Vision e o ótimo De Martino Reserva de Familia.