07/09/2005 - 10:00
A paisagem do sul da França deve fazer muito bem para a inspiração de Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts e Ron Wood, os quatro integrantes dos Rolling Stones. Em 1972, enfurnados no porão da casa do guitarrista Richards, eles deram à luz Exile on Main Street, um dos dez maiores discos de todos os tempos. Agora, quando todo mundo achava que os sessentões estariam dependurando as chuteiras, eles vêm com A bigger bang (EMI), uma seleção de 16 fabulosas canções, originadas justamente de uma estada no mesmo ensolarado sul da França, só que agora na mansão de Jagger. “Parece que as casas francesas nos fazem bem”, disse Richards.
No retumbante retorno do rock, os velhos Stones provam que não tem para Strokes ou Franz Ferdinard. Do petardo Rough justice – composto, segundo Richards,
num sonho, como Satisfaction – ao blues no melhor estilo Robert Johnson de
Back of my hand, com direito a gaitas e slide guitar, A bigger bang, primeiro álbum de estúdio em oito anos, é daqueles discos que se podem comprar sem susto. Afiadíssimo, Jagger não poupou Bush e o chama de “monte de m…” no quase-reggae Sweet neo-con (Doces neoconservadores). Sobram farpas também para católicos hipócritas e patriotas estúpidos em meio a referências ao preço da gasolina e às prisões sem julgamento.
A doença do baterista Charlie Watts, que teve de enfrentar um câncer na garganta no ano passado, obrigou a dupla de compositores Richards/Jagger a trabalhar um tempo sozinha. No período de criação, Jagger tocou baixo e bateria, e tudo isso certamente influenciou no resultado final, mais cru. “O essencial é criar algumas grandes canções roqueiras e um par de ótimas baladas. Mas não muitas, porque só gosto das realmente boas e dispenso as medíocres”, ensina Jagger. O par a que se refere atende pelo nome de Streets of love e This place is empty, essa cantada por Richards e uma das poucas acompanhadas de piano. O lado mais negróide da banda aparece no funk Rain fall down, na country-soul Biggest mistake e no rythm’n’blues Laugh, I nearly died. Na última, Richards tira da manga todo o repertório de riffs e Jagger solta um lamento como em Wild horses, numa prova
de que as pedras do melhor rock continuam sem limo.