Brigitte Bardot foi revelada ao
mundo aos 22 anos pelas mãos
de Roger Vadim no clássico E Deus
criou a mulher
, de 1956. A combinação de boca carnuda, seios fartos, madeixas loiras e uma sedução falsamente inocente fez de BB símbolo sexual e musa máxima do cinema francês. Tentativas de reeditá-la não faltam. François Ozon arriscou com as belas Emmanuelle Béart, em Oito mulheres, e Ludivine Sagnier, em Swimming pool – À beira da piscina. Agora chegou a vez de Vahina Giocante, a protagonista de Lila diz… (Lila dit ça, França, 2004), de Ziad Doueiri, em cartaz nacional na sexta-feira 9.

Lila é uma adolescente despudorada que desorienta Chimo (Mohammed Khouas, premiado como melhor ator em Sundance), jovem que vive num pobre bairro árabe de Marselha, cercado por amigos sem perspectivas de vida. Para seduzi-lo, Lila conta suas fantasias e aventuras sexuais com detalhes capazes de corar Anaïs Nin. Mas a relação não passa das revelações picantes, já que o inexperiente Chimo não consegue romper seu amor platônico pela garota.

Com esses ingredientes, a trama poderia resvalar para o clichê da ninfeta bela
e sedutora mostrada em Lolita, de Vladimir Nabokov. Mas Lila diz… vai além.
Doueiri, libanês radicado em Paris, com passagem como assistente de câmera
em obras de Quentin Tarantino, aborda o preconceito sofrido pela população de origem árabe na França, extraindo momentos de poesia mesmo em meio à
aparente vulgaridade de Lila. “Essa noite sonhei que estava fazendo sexo com
100 homens, mas todos eles tinham o seu rosto”, diz a ninfeta a Chimo. Trata-se
de uma declaração de amor, bem entendido.