“Sempre tive um temperamento de eremita.” De quem é essa frase? Uma dica: ela é de um ex-senador que, mesmo no auge de sua trajetória política quando era aclamado nos quatro cantos do País, alternava momentos de profunda introspecção com momentos de explosão verbal. Outra dica: o seu temperamento afável desaparecia na virulência e sinceridade de seus discursos no Senado que abalavam os seus vizinhos do Palácio do Planalto. Última chance: foi o grande comandante da inesquecível subcomissão do sistema bancário que desnudou o esquema de cheques fantasmas na CPI que investigou o ex-presidente Fernando Collor e seu tesoureiro, o falecido Paulo César Faria. O leitor já sabe de quem se está falando? Trata-se do ex-senador gaúcho José Paulo Bisol, que em 1989 foi vice de Lula na precária e derrotada campanha à Presidência da República (a eleição foi justamente vencida por Collor).

“Essa campanha foi a experiência política mais generosa da minha vida, entoava-se uma canção do povo”, disse a ISTOÉ o ex-senador, hoje com 72 anos. Ele é juiz de direito aposentado e passa a maior parte do tempo debruçado sobre volumosos compêndios jurídicos por puro diletantismo. Leva uma vida reclusa num condomínio em Osório, uma praia a cerca de 100 quilômetros de Porto Alegre. “Pouco viajo. Eventualmente visito Brasília para ver os meus filhos”, diz Bisol. Decepções com a política? “Não. Eu tenho boas recordações, o Brasil melhorou muito no campo ético e isso é efeito daquela CPI.” Bisol abriu uma exceção a ISTOÉ e permitiu-se uma breve análise do momento político atual: “Minha avaliação do governo Lula é positiva, mas ele está dentro de uma continuidade econômica. Eu acho que é possível um outro mundo político, e nisso o Lula é zero. Eu creio numa política mais radicalmente distributiva, num socialismo não comprometido com o socialismo de Estado.”