Em Cuba, há 22 anos o sistema público de saúde aplica ozônio em alguns doentes. É o mesmo gás que, na estratosfera, compõe a famosa camada que vem sendo destruída pela poluição. Por estranho que soe, o método ganhou adeptos na Europa e conquista espaço no Brasil. Recentemente, médicos, dentistas e outros especialistas debateram o tema na 1ª Conferência Internacional do Uso Médico e Odontológico do Ozônio, que aconteceu em Santo André (SP). A prática, conhecida como ozonioterapia, ainda não é reconhecida por aqui, mas um grupo de profissionais da saúde batalha para criar no País um centro de estudos sobre o gás. Segundo esses especialistas, o ozônio apresenta alto poder bactericida e estimula as defesas do organismo. ?Não há bactéria que resista por mais de 14 minutos a ele?, assegura o imunologista Glacus de Souza Brito, médico-assistente do Departamento de Imunologia Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ele estuda os efeitos do gás desde 2003. ? O ozônio potencializa o tratamento, mas não cura doenças sozinho?, alerta. Entre os males tratados pela terapia estão acne, alergias e furúnculos. Uma das maneiras de usá-lo é ?ozonizar? o sangue (retira-se uma pequena quantidade, que recebe uma aplicação de ozônio antes de ser reinjetada no paciente). Outra opção é administrar o gás pela via retal, por meio de um cateter. Max G Pinto Hernandez: idéia de centro de estudo no Brasil O ozônio está sendo usado também na cadeira do dentista. ?O tratamento pode eliminar 80% das cáries?, afiança o odontologista paulista Haroldo Arcuri. Para a aplicação, é usado um aparelho, do tipo motorzinho, com uma ponta de silicone que se acopla ao dente. O gás só é liberado após um aviso sonoro de que o local de aplicação foi vedado, para que não haja risco de escapar e danificar a mucosa. A terapia está longe de ser consenso. ?É desumano dizer às pessoas que elas se curam por meio de um processo sobre o qual não existe menção na literatura médica?, refuta o infectologista Adauto Castello Filho, do Hospital das Clínicas de São Paulo. A mesma opinião tem Davi Levy, do Hospital Albert Einstein (SP). ?Isso é modismo. Não há publicação de estudos em revistas idôneas que validem o método?, afirma. A médica Maria Emília Gadelha Serra, do Instituto Alpha de Saúde Integral, de São Paulo, contesta. Ela usa a técnica há um ano e aprova os resultados. A jornalista Lúcia Helena Corrêa, 55 anos, de São Paulo, também. Ela é portadora de lúpus eritomatoso sistêmico (doença caracterizada pelo ataque das células de defesa do corpo contra o próprio organismo) e usa a terapia. ?Voltei até a caminhar?, diz. Já o reumatologista Fernando Cavalcanti, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia, não se entusiasma. ?O ozônio não cura o lúpus e não há evidências de eficácia?, afirma. Apesar das manifestações contrárias, o tal centro brasileiro de estudos sobre ozonioterapia fica mais próximo de sair do papel com o apoio cubano. ?Nosso país já oferece dois cursos anuais para estrangeiros sobre o tratamento. Com um centro no Brasil, haverá maior simbiose entre os países?, entusiasma-se Tomás Moreira Hernandez, diretor do Centro de Investigações de Ozônio de Cuba.