13/10/2004 - 10:00
Por alguns momentos, aquele Cesar Maia senhor da situação, um tanto arrogante, capaz de premeditar até mesmo as próprias maluquices, desmoronou. Metido em bermudas, na varanda da Gávea Pequena, residência oficial, o prefeito reeleito chorava convulsivamente, abraçado à mulher, Mariangeles. A cena foi na noite do domingo 3, assim que o secretário municipal de Governo, João Pedro Figueira, ligou do TRE para confirmar que, pela terceira vez, os eleitores cariocas tinham escolhido o pefelista para tomar conta da Prefeitura do Rio de Janeiro – desta vez, já no primeiro turno. O feito é, realmente, digno de comoção. Ao fim de seu novo mandato, ele terá entrado para a história como aquele que governou a cidade por mais tempo. Depois das lágrimas, Cesar retomou o estilo calculista, de domador de números e estatísticas. “Previ que ganharia com 50,4%. Errei por muito pouco”, cravou. Seus votos chegaram a 50,11%, contra 21,83% do senador Marcelo Crivella (PL). Na primeira entrevista após a eleição, exercitou a generosidade e disse ter prestado mais atenção às vaias do que aos aplausos na campanha. “Vou ter cuidado especial com Saúde e Transporte, alvos das maiores críticas”, admitiu. Na reunião de secretariado, na terça-feira 5, os dois temas já tiveram destaque.
Com o excepcional desempenho das urnas, Cesar ganha credenciais para brilhar mais no PFL e espalhar sua influência além dos limites da cidade. Vai se engajar na campanha de dois petistas no segundo turno: Lindberg Farias, em Nova Iguaçu, e Godofredo Pinto, em Niterói, além do pedetista Laury, em Duque de Caxias. Promete também ajudar a administração da pefelista Aparecida Panisset, que venceu no primeiro turno em São Gonçalo, segundo colégio eleitoral do Estado. O prefeito desponta como a única estrela do PFL com potencial para a disputa presidencial de 2006. O cientista político Renato Lessa, do Instituto de Pesquisas Universitárias do Estado do Rio de Janeiro, tem dúvidas sobre a duração de sua lealdade ao PFL: “Cesar tem eleitorado próprio, desprezo pela vida partidária. É o maior líder político da cidade, mas ainda não expandiu sua influência.” As alianças na Baixada Fluminense são uma tentativa de suprir essa deficiência. Cesar disse a ISTOÉ que não se candidatará a governador ou a presidente. “Pretendo completar o mandato de prefeito”, afirma. Antever seu futuro é tão difícil quanto decifrar sua personalidade. Ao mesmo tempo que lida friamente com pesquisas, cede às orientações prescritas pelo cacique Cobra Coral. A entidade espírita indicou o figurino de campanha – camisas na cor azul e abóbora – e ditou uma espécie de oração à natureza, que Cesar seguiu até minutos antes do anúncio do resultado.